Uma dúvida muito recorrente entre estudantes e interessados por Psicanálise é sobre as diferenças entre Freud e Jung (ou entre a psicanálise Freudiana e a psicanálise Junguiana).
Para compreendermos como essas duas técnicas se diferenciam na teoria e na prática, buscamos algumas informações no International Association for Analytical Psychology (um dos principais órgãos de psicologia analítica/junguiana) e destacamos alguns pontos importantes. Mostramos abaixo o que a IAAP considera como psicologia analítica (ou junguiana), em seguida tecemos alguns comentários:
“A psicologia analítica aborda a psicoterapia e a análise profunda na tradição estabelecida pelo psiquiatra suíço C. G. Jung. Conforme originalmente definido por Jung, ele se distingue por um foco no rol de experiências simbólicas e espirituais na vida humana e se baseia na teoria dos arquétipos de Jung e na existência de um espaço psíquico profundo ou inconsciente coletivo. Seguindo o trabalho original de Jung, a pesquisa em andamento em sua tradição incorporou descobertas de outras disciplinas e escolas de psicologia profunda, tornando a psicologia analítica um campo vibrante e crescente de investigação e inovação terapêutica.
O objetivo da análise junguiana é o que Jung chamou de individuação. A individuação não deve ser confundida com simples individualidade ou excentricidade. Em vez disso, a individuação refere-se à obtenção de uma maior consciência dos fatores que influenciam como uma pessoa se relaciona com a totalidade de suas experiências psicológicas, interpessoais e culturais. Jung identificou dois níveis profundos de funcionamento psicológico que tendem a moldar, colorir e às vezes comprometer a experiência de vida de uma pessoa.
Junto com Freud, Jung reconheceu a importância das experiências do início da vida, que ele chamou de complexos pessoais que surgem de perturbações na vida da pessoa, todas encontradas no inconsciente pessoal. A percepção particular de Jung, no entanto, foi seu reconhecimento de que também somos influenciados por fatores que estão fora de nossa experiência pessoal e que têm uma qualidade mais universal. Esses fatores, que ele chamou de arquétipos, formam o inconsciente coletivo e dão forma a narrativas culturais, mitos e fenômenos religiosos.
O processo analítico visa trazer esses fatores, tanto pessoais quanto coletivos, à consciência, permitindo ao indivíduo ver mais claramente quais forças estão em jogo em sua vida. Implícito na compreensão de Jung dos arquétipos, em particular, está o sentido de um telos, ou objetivo para o qual a vida pode ser direcionada. O papel do analista é ajudar a facilitar o processo de individuação e acompanhar o analisando em sua jornada pessoal.”
Desta forma, vemos que um analista junguiano precisará se guiar não somente pelas experiências individuais do sujeito, mas também pela infinita possibilidade do chamado “inconsciente coletivo”. De acordo com a Sociedad Española de Psicología Analitica, a psicologia analítica se fundamenta basicamente nos seguintes conceitos: complexo, arquétipo, individuação, extroversão, introversão, sombra, anima, animus, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, self.
Freud e Jung foram amigos próximos durante alguns anos e, algumas ideias de Jung são inclusive citadas por Freud (ex: em 1912 Freud fala sobre a introversão, termo criado por Jung, para descrever alguns processos do estabelecimento de padrões de transferência).
Diferenças entre Freud e Jung
Em suma, a psicanálise freudiana e a junguiana divergem em várias dimensões fundamentais, refletindo abordagens distintas no estudo da mente humana e na prática clínica. Enquanto Freud enfatizava os impulsos instintivos (pulsões) e as experiências do início da vida como determinantes do comportamento humano, Jung alterou esse paradigma ao introduzir a noção de inconsciente coletivo e arquétipos. Freud focava nos conflitos inconscientes e na importância da sexualidade, Jung explorava os aspectos espirituais e simbólicos da psique.
Como regra geral, a psicanálise freudiana tende a se concentrar mais na resolução de conflitos internos e na compreensão das experiências passadas, já a junguiana busca promover a individuação e a integração dos aspectos pessoais e universais da psique. Essas diferenças fundamentais influenciam não apenas as técnicas utilizadas dentro da clínica, mas também a compreensão mais ampla da natureza humana e do papel do inconsciente na formação da identidade e na busca por significado na vida.
São dois grandes pensadores cada qual deixa um legado fundamental p a resolução dos conflitos intrapsiquicos
A diferença entre Freud e Jung é muito curiosa, porque no início de suas carreiras suas teorias tinham muito em comum. Mas no decorrer de suas carreiras vão se diferenciando.
Freud chegou a falar que Jung seria seu sucessor, mas acabaram seguindo caminhos diferentes e Freud passa a ser um crítico das teorias de Jung e vice versa.